Antes, algumas considerações... No início, não pretendia fazer deste blog um espaço para discussão política. Refiro-me aqui à política partidária. É que esse tema mais separa do que congrega as pessoas ("partido" implica exatamente isso), e eu sempre preferi focar o que nos aproxima. Ou o que ao menos deveria.
Mas as coisas mudam. Gostaria de ter tempo pra escrever sobre muitas coisas; e, nos dias que correm, política é uma delas. Na falta desse tempo, leio o que me interessa e, quando acho conveniente, compartilho. Só um pouco, e não aqui. Mas agora quero fazê-lo, e neste espaço. É que dia desses li, na seção "Feira Livre" da coluna do Augusto Nunes, um artigo de Dora Kramer intitulado "Lambuzado no melado". Não deu pra resistir. Há meses quero divulgar aqui um antigo texto meu, especificamente de 2007, publicado num semanário local graças ao espaço cedido pelo meu amigo Gilton Lobo, à época colunista da publicação. Curiosamente, eu fechei meu texto com um pensamento que ecoa e se amplifica enormemente no texto de Dora. Decidi não esperar mais.
O que me deixaria realmente satisfeito seria produzir textos novos sobre o tema. Não tenho como. Quem sabe um dia. Até lá, adianto que hoje não tenho mais nenhum receio de dizer que o PT tornou-se o patrono do que existe de pior na política brasileira: corrupção desenfreada, rompantes ditatoriais, vigarice intelectual sem limites, alianças espúrias com qualquer canalha – dentro ou fora do país – que lhes ofereça algum benefício, erosão ética e moral da política e das instituições... e coisas do mesmo quilate. Só a covardia me impediria hoje de dizer isso em alto e bom som. E covarde eu não sou.
Aos amigos que discordam, peço-lhes a tolerância que pessoas civilizadas dedicam umas às outras. Aos partidários do PT que virem nisso um motivo pra me detestar afirmo que o seu respeito não me interessa, porque ele me custaria um preço muito alto: chafurdar num lamaçal onde ética e princípios são desdenhados e vistos como valores de uma suposta elite burguesa e golpista.
Dito isso, vamos ao artigo que motivou este post. Ele foi escrito depois que o PT articulou a absolvição do então presidente do Senado, Renan Calheiros, num processo de cassação por inúmeros atos de corrupção e quebra de decoro. Foi inacreditavelmente vergonhoso. Não posso deixar de registrar que, além do PT, protagonizou o episódio o então senador por Sergipe, Almeida Lima, na época filiado ao PMDB e hoje candidato irrelevante à prefeitura de Aracaju pelo PPS.
País de Covardes
“Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
(…)
Pátria amada,
Brasil.”
As palavras acima, todos sabem, são do Hino Nacional. E estão entre as mais belas de nosso já tão belo hino. Infelizmente, não traduzem a realidade. O mais grosseiro e recente exemplo ocorreu nesta última quarta-feira, 12 de setembro de 2007: quando a justiça ergueu sua clava forte, os ilustres representantes da Nação no Senado da República esconderam-se covardemente sob o manto ignóbil e escuro de uma sessão subterrânea seguida de vergonhosa votação secreta, desviando o golpe certeiro que pairava sobre Renan Calheiros.
“Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
(…)
Pátria amada,
Brasil.”
As palavras acima, todos sabem, são do Hino Nacional. E estão entre as mais belas de nosso já tão belo hino. Infelizmente, não traduzem a realidade. O mais grosseiro e recente exemplo ocorreu nesta última quarta-feira, 12 de setembro de 2007: quando a justiça ergueu sua clava forte, os ilustres representantes da Nação no Senado da República esconderam-se covardemente sob o manto ignóbil e escuro de uma sessão subterrânea seguida de vergonhosa votação secreta, desviando o golpe certeiro que pairava sobre Renan Calheiros.
Alguns me chamarão de injusto, mas ouso creditar o atual império da fraqueza moral ao governo do PT. Sim, porque nos áureos e românticos tempos de oposição, o partido que ostentava com mais bravura que qualquer outro a bandeira da ética e da justiça jamais liberaria seus senadores para “votar conforme sua consciência”, como aliás bem o fez – ou deixou de fazer, na verdade – Aloízio Mercadante. Se o PT de hoje fosse o de antigamente, usaria todo o peso do partido e de sua condição de governo para expulsar Renan a justíssimos golpes de tacape.
Mas o PT precisa governar. Pra isso, precisa do Congresso. Precisa do PMDB. Precisa da CPMF. Precisa de um PIB sempre crescente, de uma inflação educada. Precisa de calmaria. E está disposto a pagar qualquer preço por isso, mesmo que a moeda tenha a forma de troca de favores, de cargos, de verbas em emendas do orçamento, de absolvições escandalosas ou de puro e simples mensalão.
Os mais indulgentes dirão que é melhor compactuar com tudo isso do que jogar o País na crise que o enfrentamento inevitavelmente traria, com consequências danosas para a população, principalmente a mais pobre, público alvo preferencial do governo Lula. Concordo. Um governo ético jogaria o Brasil no caos, e o povo sofreria muito. Mas... onde está nossa coragem para não fugir à luta justa, ainda que dela nos venha a morte? Só vale para dia de jogo da Seleção? Não compensaria ao País passar dois, três, ou mesmo cinco anos de crise econômica e política, mas sair de tudo mais limpo, mais justo, mais confiante nas instituições, mais certo de que o governo e o parlamento realmente existem não para proveito de seus ocupantes, mas para atuar em favor da Nação? Não compensaria ao PT arriscar a próxima eleição em prol – perdoem-me o lugar-comum – da próxima geração?
O pior de tudo é que toda essa covardia conta com a cumplicidade da população, que insiste em presenciar inerte tudo isso e, pior, continua votando essencialmente nos mesmos nomes de sempre. Mesmo Lula só foi eleito porque prometeu – e cumpriu – abandonar seu discurso de “ruptura”. O povo, e especialmente a classe média, não quer ruptura. A ruptura é arriscada. Melhor continuar tudo como está pra ver como é que fica.
Termino dizendo a quem do PT se sente ofendido por minhas palavras: estou sendo condescendente ao ver boa intenção na traição petista à ética e a seu próprio passado. Eu poderia atribuir essa traição à simples desonestidade e ao estado lambuzente de quem nunca comera melado. Quanto ao leitor que acha injusto ser por mim acusado de cúmplice da covardia, recomendo: levante de sua cadeira a parte posterior do quadril e prove que estou errado. A Pátria amada agradeceria.
P.S.: Sobre "lambuzente": esse arremedo de neologismo é uma tentativa arriscada de estabelecer paralelo com "lactente" (em oposição a "lactante").
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