sábado, 17 de dezembro de 2011

A omissão a serviço da mentira

Dá pra ver que eu não tenho muito tempo pra escrever. Na verdade, tenho pouco tempo pra ler também, mas tento não me desligar dos assuntos em pauta no mundo pensante. Muito raramente, resolvo me manifestar. Há uma semana, resolvi me pronunciar sobre um post de Reinaldo Azevedo em seu blog, mantido pela revista Veja. Sim, meu texto é contundente, mas ninguém que tenha lido Reinaldo Azevedo pode me acusar de ser mais agressivo do que ele costuma ser. Espero até hoje. Meu comentário não foi publicado. O que não me surpreende, dado o histórico de censura despudorada que o tal blogueiro chama de "moderação". Ele sempre se gaba de não deixar "petralhas" sujar o blog dele. Mas acho que estou em boa companhia. Dias antes do meu comentário ser escrito, eu li um texto revelador do jornalista Phellipe Marcel da Silva Esteves. Sugiro a leitura a todos que imaginam haver alguma honestidade no modo como esses blogs da grande imprensa são conduzidos. Ou mesmo àqueles que gostam de ver suas suspeitas, ou mesmo convicções, confirmadas. Segue abaixo o meu (longo) comentário. Faço uma ressalva ao meu elogio a Augusto Nunes: vi hoje que ele também pode ser muito deselegante com os comentaristas que não se alinham com ele.

Caro Reinaldo Azevedo,

Não concordo com sua autodefesa. Via de regra, seus textos são agressivos, mal-educados, grosseiros, estúpidos mesmo. Não, eu não vou me dar ao trabalho de apontar onde, quando e como se dá isso. Já é muito o tempo que lhe dedico nesse
[errata: "neste"] comentário. Além do mais, não me cabe ensinar a um homem feito, tão seguro de si, detalhes de como se comportar no embate de ideias. E não adianta recorrer a sua tão cara retórica de dizer que de nada vale o que escrevo porque não exemplifico, não "provo" o que estou afirmando. Qualquer pessoa decente é capaz de ponderar sobre uma crítica, ainda que genérica, acerca do seu modo de agir. Pondere. E não apele para o desprezo ou a desqualificação do interlocutor só porque ele não se dispõe a cumprir seus "requisitos" para criticá-lo. Isso é muita soberba.

Se me permite a sugestão, que tal trocar umas ideias com seu amigo Augusto Nunes? Ele é contundente no combate à mediocridade,  vigarice, corrupção e falta de pudores com que o PT e seus asseclas nos têm massacrado nesses longos e tristes nove anos. Mas ele jamais perde a elegância, ao contrário de você, que, de tão deselegante, repetidas vezes me faz sentir vergonha alheia. Você recorre a gabolices, notadamente quando se jacta de brandir a lógica com destreza insuperável. Meu caro profissional das palavras, se lógica bastasse, a filosofia teria se esgotado em Platão ou, no máximo, Aristóteles. E eu já vi você recorrer a silogismos tão ridículos que me soaram desonestos.

Ah, não posso esquecer: é muita grosseria sua barrar qualquer comentário que defenda a legalização das drogas (baseio-me em suas próprias afirmações, já que quase nunca leio os comentários a seus textos). Muitas pessoas inteligentes, honestas, decentes e "limpas" defendem essa legalização em maior ou menor grau. Não é certo barrar a opinião delas apenas porque contrariam sua retórica "infalível". Dê uma olhada no blog do Sakamoto, por exemplo (http://blogdosakamoto.uol.com.br/). Muitos dos leitores dele massacram sem pena o que ele escreve. E nem por isso são barrados. O português dele não é impecável como o seu, as ideias dele não têm o peso da revelação divina que as suas têm, mas ele tem muito mais espírito democrático que você, a despeito de toda a sua pretensa defesa da democracia. Eu sei que o blog é seu, que você faz dele o que quiser, mas o próprio fato de ser um blog tão acessado faz dele um espaço público para o confronto de ideias. Sua "censura" ao que não condiz com suas convicções é um desrespeito ao público, para quem você abriu esse espaço (ou você acha que isso não tem ônus?), inclusive porque introduz um viés de aparente uniformidade onde há de fato uma considerável discordância "reprimida". Mais uma vez, isso não soa honesto.

Não estou aqui fazendo apologia às drogas, muito menos ao crime. Apenas acho que a legalização não é uma ideia que possa ser descartada a priori. Tem de ser pensada, exposta e submetida à critica como qualquer outra proposta honesta de solução. A propósito, jamais usei qualquer tipo de droga e tenho nojo de todas elas, inclusive das drogas "legais" que já vi você saborear em seus vídeos autopromocionais.

Por fim, saiba que não escrevo estas linhas nem leio seu blog por "Reinaldo-dependência" (outra expressão nascida de sua pouca modéstia). Meu comentário tem por alvo muito mais os seus leitores do que você. Quero que eles saibam que existem seres educados e não "esquerdopatas" capazes de discordar de suas verdades. Tenha a decência de publicar minhas palavras. Quanto a lê-lo, saiba que eu sempre dediquei algum tempo a ler, escutar e assistir gente que pensa diferente de mim, inclusive aqueles cujas ideias muitas vezes me soam repulsivas. Isso nunca me empobreceu, pelo contrário. Eu apenas não tenho medo de pôr minhas concepções à prova.

2 comentários:

  1. "A propósito, jamais usei qualquer tipo de droga e tenho nojo de todas elas"

    Usou e usa sim. Os textos do Reinaldo Azevedo são uma droga (de péssima qualidade, se é que droga possa ter alguma qualidade.

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  2. Vigi, fiquei sem fôlego !

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