Já tratei do assunto antes. Mas ele merece considerações adicionais. Vamos a elas.
Há algumas semanas, percebi nas redes sociais um certo #mimimi de petistas que até poucos dias ainda vomitavam bazófias sobre os "reacionários coxinhas". Diante da avalanche de evidências de que o PT comandou um megaesquema de corrupção como "nunca antes na história deste país", o ímpeto de negar ou relativizar o papel do partido no escândalo arrefeceu no coração dessa gente. A vergonha diante do ridículo a que se expuseram durante tanto tempo e com tantas desculpas do tipo "foi FHC" finalmente abateu-lhes a arrogância.
Essa arrogância voltou a se manifestar depois do papelão de Lula na ABI, da divulgação do Swissleaks e da omissão dos nomes de Lula e Dilma na lista do Janot. Mas eu quero me concentrar mesmo é no modo petista de expressar consternação naquele intervalo em que a derrota na luta por corações e mentes parecia inevitável. Eles demonstravam tristeza porque lhes doía o sofrimento dos pobres, a existência da miséria, a insistente desigualdade, a indiferença dos ricos com as aflições dos desfavorecidos. Era como se o sonho de finalmente mudar o mundo, começando pelo "governo democrático e popular" do PT, estivesse desmoronando, e com ele o próprio sentido da vida desses abnegados. #mimimi. Moralistas hipócritas.
Tal afetação de altruísmo disfarça uma das maiores canalhices de que são capazes os expoentes da esquerda "revolucionária": acusar todos os que não concordam com seus métodos, com sua visão de mundo e com seus valores de serem egoístas, malvados, burgueses exploradores dos pobres e felizes beneficiários da desigualdade que é causa de toda miséria do mundo.
Pensando assim, essa gente se convence de que a corrupção deles é melhor que a dos outros. Porque "todos são corruptos", mas só eles "pensam nos pobres". Bem, eu tenho novidades. Nem todos somos corruptos. Muitos de nós sempre odiamos a corrupção, inclusive a dos governos não petistas. E lutamos contra ela. E não vemos motivo pra fazer diferente quando o governo é de um partido ou de um político em que votamos. Porque nós, os seres humanos "ordinários", que não somos de esquerda, não temos bandidos de estimação. Não acreditamos em doutrinas políticas redentoras. Não acreditamos em partidos "revolucionários", donos da chave da história, únicos conhecedores do caminho para o progresso da humanidade. Acreditamos menos ainda em líderes carismáticos, "populares" e iluminados. Tipo Lula.
E muitos de nós, fora da esquerda, também pensamos nos pobres. Também queremos que eles deixem de ser pobres, que melhorem de vida, que deixem de ser explorados. Ocorre que nós não acreditamos que os métodos defendidos e praticados pela esquerda sejam eficazes. Na nossa opinião, esses métodos retardam a redução da pobreza, quando não a pioram, seja por tornar os pobres ainda mais pobres, seja por arrastar para a pobreza quem antes nem pobre era. Você, da esquerda, pode não acreditar em nós. Pode discordar de nós. Mas não tem o direito de dizer que, por pensarmos assim, somos uns malvados indiferentes aos pobres. Se você julga ter esse direito, tem uma séria deficiência intelectual ou uma grave deformidade de caráter.
Assumamos, então que você, esquerdista, e eu, direitista (pode me chamar assim, se isso o conforta), somos gente honesta, decente, altruísta e com vontade de mudar o mundo. Discordamos quanto aos meios, mas acreditamos na boa fé um do outro. Só que eu estou no poder. Você, não. Eu governo, você se opõe. Mas eu percebo que meu "mundo melhor" não será possível se eu não ceder à fisiologia, se eu não aparelhar a máquina pública, se eu não fizer acordos espúrios com os oportunistas que sempre saquearam o povo, se eu não fechar os olhos à corrupção deles ou, no último caso, se eu mesmo não praticar - ou mesmo comandar e coordenar - a corrupção. Um belo dia, tudo isso tem à tona. Acaso você aceitaria que eu me justificasse dizendo que eu e meus correligionários somos pessoas decentes, que só fizemos o que todos sempre fizeram, que os outros fizeram pior, que a mídia - neste caso, seria uma mídia de esquerda, viu? - quer me derrubar, que a mesma mídia encobriu a corrupção quando você dava as cartas, que a KGB - ou o que restou dela -, Cuba, Maduro, as FARC e o Foro de São Paulo patrocinam uma campanha de desinformação pra viabilizar um golpe contra meu governo, um governo tão bem intencionado que só pensa em melhorar a vida dos pobres...? Não? Você não aceitaria? Tem certeza? E por que raios você quer que eu aceite esse tipo de "justificativa" para a sua corrupção, a do seu partido, do seu governo, dos seus heróis?! Ah, vá se catar!
Todas as "desculpas" acima são inaceitáveis, venham de quem vierem. Isso não muda porque você é do bem, porque você é de esquerda, porque você se importa com os pobres. Eu também sou do bem, também me importo com os pobres. E isso não me dá o direito de roubar, não me dá o direito de, tendo roubado, almejar compreensão, condescendência, uma nova chance; não me dá a autoridade pra dizer como a política deve ser "reformada" pra que esse tipo de coisa nunca mais aconteça. Por que daria a você?
Parafraseio aqui palavras que li de Reinaldo Azevedo: Na democracia (se ela fizer jus a esse nome), nós discordamos no conteúdo, mas concordamos na forma. Quer dizer, podemos ter todas as divergências possíveis, mas aceitamos que todas as nossas ações devem se dar dentro da lei. Nenhum de nós tem o direito de infringir a lei em nome de nossos valores, de nossos ideais. Porque isso implica necessariamente reconhecer que a outra parte pode se dar o mesmo direito. E isso nos tornaria definitivamente um país de ladrões.
Aqui está o ponto central deste texto: não existe corrupção do bem. Não existe corrupção bem intencionada. Não existe corrupção justificável. Se a esquerda espera ter essa prerrogativa, por que o mesmo direito teria de ser negado à "direita"? Por que os "capitalistas", os "neoliberais" não fariam jus ao mesmo tratamento, bastando pra isso argumentarem que são pessoas do bem e que fizeram tudo pelo bem do país e especialmente dos mais pobres? Ah, porque não existem direitistas, capitalistas e neoliberais decentes, altruístas, honestos e sinceros? Quer dizer realmente que a esquerda detém o monopólio da virtude?
Esse arrazoado, implícito no discurso de vocês, só deixa claro que o que lhes interessa mesmo é deter o monopólio da roubalheira impune. Tudo em nome do bem.
Pensando assim, essa gente se convence de que a corrupção deles é melhor que a dos outros. Porque "todos são corruptos", mas só eles "pensam nos pobres". Bem, eu tenho novidades. Nem todos somos corruptos. Muitos de nós sempre odiamos a corrupção, inclusive a dos governos não petistas. E lutamos contra ela. E não vemos motivo pra fazer diferente quando o governo é de um partido ou de um político em que votamos. Porque nós, os seres humanos "ordinários", que não somos de esquerda, não temos bandidos de estimação. Não acreditamos em doutrinas políticas redentoras. Não acreditamos em partidos "revolucionários", donos da chave da história, únicos conhecedores do caminho para o progresso da humanidade. Acreditamos menos ainda em líderes carismáticos, "populares" e iluminados. Tipo Lula.
E muitos de nós, fora da esquerda, também pensamos nos pobres. Também queremos que eles deixem de ser pobres, que melhorem de vida, que deixem de ser explorados. Ocorre que nós não acreditamos que os métodos defendidos e praticados pela esquerda sejam eficazes. Na nossa opinião, esses métodos retardam a redução da pobreza, quando não a pioram, seja por tornar os pobres ainda mais pobres, seja por arrastar para a pobreza quem antes nem pobre era. Você, da esquerda, pode não acreditar em nós. Pode discordar de nós. Mas não tem o direito de dizer que, por pensarmos assim, somos uns malvados indiferentes aos pobres. Se você julga ter esse direito, tem uma séria deficiência intelectual ou uma grave deformidade de caráter.
Assumamos, então que você, esquerdista, e eu, direitista (pode me chamar assim, se isso o conforta), somos gente honesta, decente, altruísta e com vontade de mudar o mundo. Discordamos quanto aos meios, mas acreditamos na boa fé um do outro. Só que eu estou no poder. Você, não. Eu governo, você se opõe. Mas eu percebo que meu "mundo melhor" não será possível se eu não ceder à fisiologia, se eu não aparelhar a máquina pública, se eu não fizer acordos espúrios com os oportunistas que sempre saquearam o povo, se eu não fechar os olhos à corrupção deles ou, no último caso, se eu mesmo não praticar - ou mesmo comandar e coordenar - a corrupção. Um belo dia, tudo isso tem à tona. Acaso você aceitaria que eu me justificasse dizendo que eu e meus correligionários somos pessoas decentes, que só fizemos o que todos sempre fizeram, que os outros fizeram pior, que a mídia - neste caso, seria uma mídia de esquerda, viu? - quer me derrubar, que a mesma mídia encobriu a corrupção quando você dava as cartas, que a KGB - ou o que restou dela -, Cuba, Maduro, as FARC e o Foro de São Paulo patrocinam uma campanha de desinformação pra viabilizar um golpe contra meu governo, um governo tão bem intencionado que só pensa em melhorar a vida dos pobres...? Não? Você não aceitaria? Tem certeza? E por que raios você quer que eu aceite esse tipo de "justificativa" para a sua corrupção, a do seu partido, do seu governo, dos seus heróis?! Ah, vá se catar!
Todas as "desculpas" acima são inaceitáveis, venham de quem vierem. Isso não muda porque você é do bem, porque você é de esquerda, porque você se importa com os pobres. Eu também sou do bem, também me importo com os pobres. E isso não me dá o direito de roubar, não me dá o direito de, tendo roubado, almejar compreensão, condescendência, uma nova chance; não me dá a autoridade pra dizer como a política deve ser "reformada" pra que esse tipo de coisa nunca mais aconteça. Por que daria a você?
Parafraseio aqui palavras que li de Reinaldo Azevedo: Na democracia (se ela fizer jus a esse nome), nós discordamos no conteúdo, mas concordamos na forma. Quer dizer, podemos ter todas as divergências possíveis, mas aceitamos que todas as nossas ações devem se dar dentro da lei. Nenhum de nós tem o direito de infringir a lei em nome de nossos valores, de nossos ideais. Porque isso implica necessariamente reconhecer que a outra parte pode se dar o mesmo direito. E isso nos tornaria definitivamente um país de ladrões.
Aqui está o ponto central deste texto: não existe corrupção do bem. Não existe corrupção bem intencionada. Não existe corrupção justificável. Se a esquerda espera ter essa prerrogativa, por que o mesmo direito teria de ser negado à "direita"? Por que os "capitalistas", os "neoliberais" não fariam jus ao mesmo tratamento, bastando pra isso argumentarem que são pessoas do bem e que fizeram tudo pelo bem do país e especialmente dos mais pobres? Ah, porque não existem direitistas, capitalistas e neoliberais decentes, altruístas, honestos e sinceros? Quer dizer realmente que a esquerda detém o monopólio da virtude?
Esse arrazoado, implícito no discurso de vocês, só deixa claro que o que lhes interessa mesmo é deter o monopólio da roubalheira impune. Tudo em nome do bem.
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