domingo, 28 de agosto de 2011

Quando a civilidade é só para os idiotas

Cena 1

Depois de esperar pacientemente minha vez de passar num cruzamento com semáforo, tive de tirar o pé pra não esbarrar com um motociclista que, sem a menor cerimônia, achou que o sinal vermelho pra ele lhe dava muito mais direito de passar do que o verde pra mim. Pior, antes de cruzar comigo, ele ultrapassou rapidamente vários carros já parados por conta do mesmo sinal vermelho. Não pude deixar de me lembrar que, na minha cidade, a maioria absoluta dos motoristas acha absurdo que um semáforo tenha fotossensor para multar os que avançam o sinal. No momento, nenhum semáforo o tem, porque o contrato da prefeitura com a empresa que administrava os equipamentos de fiscalização eletrônica foi rescindido devido a irregularidades cometidas por essa empresa em outros Estados. Jornalistas engrossam o coro dos que querem o fim dos fotossensores e radares. Políticos fazem disso sua plataforma de campanha eleitoral. E são eleitos. Pra mim, essa gente toda não passa de uma canalha.

Cena 2

No estacionamento do shopping, vejo uma mulher guardando as compras no porta-malas do carro. Sua filha, em pé dentro do carrinho de compras, pega dois sacos plásticos de acomodar frutas ou verduras, não usados, e joga no chão do estacionamento. A mãe faz vista grossa. Enquanto eu cato as coisas de que vou precisar para sair do carro e fazer minhas compras, assisto essa cena e fico indignado. A mulher empurra o carrinho pro lado, acomoda a filha no banco de trás e ignora os sacos plásticos largados no chão. Entra, liga o carro e vai sair. Eu já estou farto de ver cenas desse tipo. Antes que ela saia, pego calmamente os sacos no chão, percorro a lateral direita do carro e prendo os dois sacos na palheta do limpador de para-brisa. Ela demonstra surpresa e eu digo em um tom capaz de atravessar os vidros fechados: “Você esqueceu de recolhê-los”. Ela tenta se explicar: “Eles 'caíram' do carrinho...”. Eu não perco a calma, mas minha paciência se esgota. Abandono o papel de quem acredita que ela “esqueceu”. Respondo: “É, mas não lhe custava tê-los pegado”. Acho que ela fica chateada. Parece-me que ela desprendeu o cinto e saiu do carro para recolher os plásticos. Espero que o tenha feito porque eu não tinha interesse de ficar pra ver. Dei as costas e fui embora.
A essa altura, meus pensamentos eram mais ou menos esses: a classe média é a escória da nossa sociedade. Não dispõe sequer da desculpa de não ter tido oportunidade, de não ter estudado, de não ter dinheiro, de não ter instrução. Age desse modo por grosseria pura e simples, travestida de indolente desleixo. Nesse comportamento está a raiz de vivermos num dos países mais injustos, corruptos e desumanos do mundo. Ah, mas eles vão ouvir. De mim, vão.

Um comentário:

  1. eu passo aqui sim, mas acho que tem um outro colega, Fabio do http://fidusinterpres.com/ que também mora na Alemanha, talvez seja ele. Bem, eu moro em Aachen, caso apareca Aachen ou Eschweiler, sou eu :-)

    minha irma fez algo parecido com vc. Um cara deixou cair uma lata de refri, ele estava de terno com laptop na maleta. ela simplesmente cheogu até ele e disse: acho que o Sr. perdeu isso aqui. Ele ficou tao boquiaberto q nao respondeu.

    respeito a si e aos outros é o que falta. e tá faltando aqui na Alemanha também.
    bom domingo

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