quarta-feira, 10 de abril de 2019

31 de março de 1964: 10) “Vá estudar história!”


Algumas considerações.

1) Foi golpe?

2) Foi errado?

3) Foi ditadura?

4) O regime militar salvou o Brasil do comunismo?

5) Ter combatido o comunismo redime o governo militar de seus crimes?

6) Golpe é golpe. É sério que não é errado nem certo?

7) Havia alternativa ao golpe e à ditadura militar?

8) “Ditadura nunca mais!”

9) Socialistas nutella

10) “Vá estudar história!”


Para esse desafio, eu tenho uma resposta curta: venha me ensinar.

Infelizmente, ninguém se dispôs ainda a remover o espesso véu de ignorância que me encobre os olhos. Meu humilde pedido já foi rechaçado inclusive de formas assaz agressivas.

Mas eu também tenho uma resposta mais longa. Muita gente, aqui no Brasil, imagina-se bastante instruída, especificamente em História, porque acha que aprendeu na escola e na universidade tudo o que precisava pra não ser ludibriada por essa narrativa opressora que por muito tempo alienou o povo e o manteve sob manso e resignado jugo. Pra essas pessoas, eu tenho más notícias.

Sua instrução se deu num ambiente que baniu qualquer pensamento não esquerdista há décadas. A ditadura militar fez-nos o desfavor de associar à direita tudo o que é mau, autoritário, ditatorial, ignorante, rude e desumano. Se, no conflito armado, a esquerda jamais teve chance e foi aniquilada, no embate cultural os militares levaram uma surra muito pior que qualquer 7 a 1. Pra piorar, os próprios militares, tecnocratas que eram, sufocaram toda possibilidade de surgir lideranças políticas de direita, restando, após sua saída, apenas a esquerda que voltou do exílio ou reemergiu da clandestinidade e os políticos fisiológicos, para quem direita e esquerda nada significavam, desde que eles tivessem uma teta pública em que se agarrar. Nesse ambiente, a “direita” que a esquerda combatia eram as viúvas da ditadura e o patrimonialismo fisiológico, ou seja, uma gente sem a mínima envergadura intelectual ou moral para se contrapor à nascente hegemonia da esquerda rediviva.

Assim, o que vocês se acostumaram a chamar de direita foi uma coisa amorfa, invertebrada e descerebrada, que fazia parecer que não havia vida inteligente, nem decente, fora da esquerda. Toda a produção cultural, acadêmica, pedagógica, editorial e jornalística viria a ser essencialmente de esquerda nas décadas que se seguiram. Nenhum político, por inimigo que fosse da esquerda, se declarava de direita, pois isso lhe tirava qualquer chance de ser eleito. Qualquer empresário que advogasse abertamente o capitalismo, ou o livre mercado, era execrado como um demônio de maldade a ser escorraçado do convívio dos seres humanos, porque nem gente era. Eu sei, eu estava lá, eu vi tudo isso. O capitalismo brasileiro limitou-se ao que sempre foi: o compadrio patrimonialista entre os amigos e parentes dos governantes e os empresários bem relacionados, jamais um mercado de livre competição e busca por eficiência.

Nesse ecossistema vazio de uma direita que merecesse esse nome, vocês pensam que aprenderam História, pensam que desenvolveram um “pensamento crítico”, pensam que se tornaram inteligentes e sagazes, pensam que se tornaram imunes à manipulação da “mídia” burguesa, da “versão oficial” dos fatos, essas balelas que todo militante xexelento de DCE adora relinchar. A verdade é que vocês foram doutrinados a vida inteira, e nem perceberam. Talvez nem seus professores tenham percebido que estavam doutrinando vocês, porque eles alcançaram a formação docente já integralmente doutrinados. Vocês são como peixes num recife de corais que não fazem a mínima ideia de que estão dentro d’água, simplesmente porque não suspeitam que existe uma coisa chamada não-água.

Vocês pensam que sabem História, mas a história que vocês sabem é a história contada a vocês pela esquerda, e apenas esta. Vocês não fazem ideia de que, fora do Brasil, existe um universo imenso de historiografia que passa anos-luz longe dessa porcaria que nos ensinam aqui há pelo menos uns quarenta, cinquenta anos. Vocês pensam que aprenderam filosofia, sociologia, pedagogia, psicologia, jornalismo e – pasmem, em muitos casos até – biologia, mas passaram uma vida inteira sendo ensinados a olhar o mundo segundo as lentes de filósofos, sociólogos, pedagogos, psicólogos jornalistas e – até – biólogos socialistas; no mais das vezes, esses (de)formadores eram na verdade mais socialistas do que realmente filósofos, sociólogos, pedagogos, psicólogos jornalistas ou biólogos.

Vocês não sabem do mundo intelectual que existe para além das paredes pichadas de seus câmpus de humanas. A direita que vocês conhecem é uma caricatura, que vocês chamam de fascista, embora vocês nem mesmo saibam explicar o que é fascismo. Vocês não sabem o que é a direita conservadora, porque pelo menos desde 1964 isso não existe no Brasil. Vocês não sabem o que é uma direita liberal, porque isso também não existe aqui. Vocês não sabem que existe uma direita, no mundo, profundamente comprometida com a liberdade, com a vida, com os direitos humanos, com o respeito à coisa pública, com o combate à pobreza e com o fim da miséria, e que a divergência veemente dessa direita com as várias esquerdas mundo afora se deve a que essas – a maioria viúvas do muro de Berlim – defendem ideias que, intencionalmente ou não, prejudicam gravemente a consecução daqueles valores, que vocês pensam ser coisa só de gente “do bem”, portanto só da esquerda.

Vocês não sabem que essa direita veria com horror o tipo de político e empresário que, no Brasil, se locupleta entranhado nas vísceras do Estado patrimonialista, políticos e empresários que vocês enxergam como sinônimo de direita, apenas porque, como eu já disse, eles foram os únicos que sobraram fora da esquerda após o fim do ciclo militar. Essa gente não tem nenhum tipo de formação teórica ou vivencial que os vincule aos valores da direita que descrevo aqui. Confundir as duas coisas é puro exercício de má-fé ou de estupidez.

Saciados de bem-aventurada incultura, vocês não conhecem nada da literatura liberal-conservadora, e rotulam de fascista uma direita que rejeita frontalmente tudo que fascismo e nazismo representam; pior, vocês não têm a mínima noção de que o nazifascismo que vocês tanto dizem repudiar é muito mais parecido com o socialismo, que vocês aprenderam ser a única força política do bem, do que com qualquer coisa que essa direita defenda.

A literatura de direita que vocês não sabem que existe, que vocês nunca viram nas estantes de suas escolas e universidades, é produção de intelectuais de verdade, de acadêmicos respeitados – e temidos – mundo afora: Burke, Oakeshott, Ortega & Gasset, Voegelin, David Horowitz, Scruton, Dalrymple, Thomas Sowell, Niall Ferguson, Jordan Peterson, só pra ficar numa amostra mínima. Gente cuja obra foi sonegada por décadas aos alunos brasileiros, porque seus professores eram ignorantes demais para saber que eles existiam ou, pior, eram desonestos demais para permitir que seus alunos os conhecessem. Só de uns pouquíssimos anos para cá tem havido um esforço de editoras como Record, É Realizações e Vide Editorial para traduzir grandes pensadores da direita mundial, resgatar antigos – e proscritos – nomes da tradição liberal-conservadora nacional e publicar novos pensadores da incipiente direita brasileira. Se você não leu nada disso, você não passa de um grande ignorante. E nada pior do que um ignorante que, além de se achar dono da verdade, quer “mudar o mundo” pra que este seja tão bom quanto sua ignorância diz que ele deve ser.

Eu sei. Você talvez seja uma pessoa muito inteligente. Eu não duvido disso. Mas nenhuma inteligência é páreo para a falta de informação ou, pior, para a desinformação, que é o que a hegemonia cultural e acadêmica de esquerda, socialista, tem imposto a todo o sistema educacional e editorial brasileiro. Se você realmente quer saber o que aconteceu em 1964, em toda a história do Brasil, na história do mundo, no esforço incansável da esquerda militante para sequestrar as consciências individuais, coletivas e nacionais desde que Marx e Engels escreveram, em 1848, “Um espectro ronda a Europa…”, eu sugiro que você esqueça o que “seu professor de história” lhe disse e lhe faço um apelo:

– Vá estudar!


PS: Se quiser, eu ajudo.

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