Algumas considerações.
1) Foi golpe?
2) Foi errado?
3) Foi ditadura?
Mais ou menos. Sim.
Mais ou menos.
Entre 1964 e 1968, o Brasil gestava uma ditadura, que
ainda não tinha de fato vindo à luz. Havia um regime autoritário,
com violações esporádicas de direitos fundamentais. Essas
violações eram graves, até numerosas, mas não eram sistemáticas.
O regime reconhecia o dever de proteger os direitos eventualmente
agredidos, prometia não deixar a “tigrada” fazer mais aquelas
coisas, empurrava com a barriga. No dizer de Elio Gaspari, era uma
“Ditadura
Envergonhada”. Ainda havia bastante espaço para oposição e
contestação.
O caldo entornou com o AI-5, em 13 de dezembro de
1968, que inaugurou a “Ditadura
Escancarada”; daí em diante, o regime não teve mais nenhuma
vergonha de mostrar toda sua feiura: censura, prisão, sequestro,
desaparecimento, tortura e morte tornaram-se política sistemática
de Estado, sem freio, justificativa, pedido de desculpa nem promessa
de se comportar melhor no futuro. Sob o pretexto de combater
subversivos criminosos, o Estado brasileiro tornou-se, ele mesmo,
abertamente criminoso. O AI-5 transformou o Brasil numa ditadura, sob
qualquer ótica que se queira avaliar.
A reversão do quadro tomou
forma com a anistia, em 1979, que prenunciava o reconhecimento de que
o regime devia satisfações à sociedade, não tinha mais força
suficiente pra agir como dono absoluto dela. Ainda era um regime
autoritário, uma espécie de ditadura definhante que, sob o peso de
suas próprias mazelas, viu-se obrigada a devolver o poder aos civis
com a eleição de Tancredo Neves em 1985.
No fim das contas, não
querer chamar uma ditadura de ditadura é
tanta burrice quanto não querer chamar o golpe de golpe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário